Sobre
Visitar Amigos e Parentes
No
ano de 2004 uma senhora de setenta e oito anos, com problemas cardíacos, outros
achaques menores e mais os que existiam apenas na mente de referida pessoa,
resolveu fazer, mais uma vez, o roteiro
de visita aos parentes e amigos. Lamente-se que hoje este costume tão
fortalecedor dos verdadeiros laços humanos venha sendo substituído por whatsapp,
facebook, instagram e outras porcarias que, embora úteis, mais atrapalham do
que ajudam nas relações humanas.
Pois mencionada senhora saiu de
Curitiba, em ônibus, rumou ao Norte do Rio Grande do Sul, onde revisitou alguns
amigos de longa e próxima data, parentes próximos, consaguíneos ou não,
parentes distantes etc..
Passou por São Vicente do Sul, onde
possuía sua casa de campo, humilde, sem luxo, construída com muito sacrifício.
Mas é construção ampla com cinco quartos, dois banheiros, tudo com o objetivo
maior de sempre acolher filhos, netos, outros parentes e amigos, que essa era
uma de suas maiores alegrias, tal e qual sua mãe, Ana Cândida. E olha que essa
construção foi feita com muita economia, pois era escassa a pensão e
aposentadoria mínima do INSS.
Ali reviu o irmão, alguns sobrinhos
e prosseguiu o roteiro rumo a Porto Alegre, mas antes passou por Santa Maria,
onde reviu mais uma leva de amigos.
Lá pelas tantas deu com os costados
em Porto Alegre, onde centralizou a visitação de nora, sobrinhos, netos e
filho, este escrevinhador.
De onde esta senhora tirava tanta
energia e disposição é coisa que não consigo entender. Eu, que se sou obrigado
a fazer uma longa viagem de ônibus fico num esgualepamento que dura uns dois
dias.
Pois de fato, dona Lourdes ou a
Lurde como dizia seu Hilário, montou o QG de visitação no apartamento do
escrevinhante aqui e dali cumpriu alguns dias de roteiro visitacional. Eram
amigos, amigas, irmãos e irmãs de igreja, uma lista graúda.
Estava o autor desta crônica em mais
uma fase de solteiranato. Desta forma coube-me a missão de prover comida para a
mãe visitante. Como não sou cozinheiro e não entendo bulhufas do assunto, o almoço
sempre fazia fora de casa. Restavam assim, o café da manhã e da noite.
Mandei-me ao mercado e comprei o que julgava necessário: leite, pão, manteiga,
queijo, etc.
As frutas, no entanto, busquei numa
fruteira próxima, que sempre tinha produtos confiáveis, inclusive mamão.
Como se sabe, mamão, se a pessoa não
é um grande conhecedor, é tipo uma loteria, pode ser ótimo, bom ou péssimo na
hora de comer. Pois dei sorte e aquele era, realmente, muito bom.
A Lurde comeu com um gosto que era de se ver!!!
- Como é bom este mamão! Onde
compraste? No mercadinho ali da esquina?
- Não, mais uma quadra e meia, descendo,
defronte ao Hospital Cristo Redentor, há uma fruteira dum colega de trabalho da Claudete (uma das ex-esposas) que fica
aberta vinte e quatro horas por dia e que, realmente, só tem frutas boas. Se um
dia, quando vieres aqui e eu tiver saído a trabalho, precisando outro mamão que
nem esse, vai lá.
Dona Maria de Lourdes Fernandes Barbosa,
comeu aquele mamão com um enorme e genuíno prazer.
- Realmente, muito bom. Fazia tempo
que não comia mamão tão gostoso. Quando voltar aqui, vou comprar um nesta
fruteira.
Terminado o café-da-manhã, descemos
a rua até a Avenida Assis Brasil, onde a Lurde pegaria o ônibus que a levaria
até Taquara, onde havia morado por muitos anos e tinha uma leva de amigos a
rever.
Chegando à parada do ônibus, ela,
sabedora de que eu precisava trabalhar, falou:
- Não precisa esperar comigo. Podes
ir trabalhar.
- Não, eu fico, ajudo a subir nos
degraus do ônibus esta sacola mais pesada.
E ficamos conversando, até que o “Citral”
apareceu e eu ajudei aquela senhora de setenta e oito anos a embarcar para
cumprir seu destino de sempre cultivar amizades.
Até hoje espero a Lurde voltar para
que eu possa ir à fruteira comprar mamão confiável.
Palma, São Vicente do Sul, 12 de
maio de 2024. Num dos quartos da casa construída por Lourdes Barbosa, para
receber seus filhos, parentes e amigos.
Em meio à maior tragédia que o Rio
Grande do Sul enfrentou. Pena que não possa contar com o conforto da Lurde para
enfrentar esta dor.